Por que é importante meditar?

Assim como qualquer pessoa, você provavelmente não acorda pensando: “Hoje eu quero sofrer. Quero passar o dia inteiro com ansiedade, ter alguns acessos de raiva e depois ficar triste.”

De algum modo, todos nós queremos ser felizes, por isso procuramos evitar sofrimentos e aflições. Mas o que é felicidade? Ela é externa a nós ou é algo que pode ser cultivado de forma interna? Ela é um estado de euforia constante ou um estado mais calmo e contente?

Nosso estado mental é o que define nossa qualidade de vida. Por isso, seria útil entendermos o que é felicidade.

Uma reflexão importante que a prática contínua da meditação pode nos trazer é sobre dois tipos distintos de felicidade: a felicidade hedônica, mais condicionada, também confundida com prazer; e a felicidade eudaimônica, mais genuína e estável.

Já estamos bem acostumados com o primeiro tipo, que é aquele tipo de felicidade alcançada através da posse ou do recebimento de algo. Quando recebemos um elogio, comemos algo muito gostoso ou experimentamos alguma sensação agradável, por exemplo.

Entretanto, quando a causa dessa felicidade é destruída ou deixa de existir, tal felicidade também desaparece. Vale notar que, ainda assim, esse tipo de felicidade possui o seu valor, afinal, nós também precisamos de coisas como um ambiente saudável e condições básicas de vida para que possamos cultivar as causas para uma felicidade mais genuína. Infelizmente, dedicar a vida apenas a esse tipo de felicidade condicionada pode não ser o suficiente, uma vez que sua origem – ligada a estímulos – jamais poderá ser duradoura e estável.

Por sua vez, o outro tipo de felicidade, que chamaremos aqui de eudaimônica, ou de “felicidade genuína”, não se trata apenas de uma série de sensações e emoções agradáveis. Ela é um estado de estabilidade e serenidade, de um equilíbrio mental e bem-estar interior que estão lá independentes do vai e vem dos pensamentos, das emoções e situações externas. Simplesmente estando em nossa própria companhia, inspirando e expirando, desfrutando da presença natural do nosso ser para além de qualquer artifício do ego: um estado de presença por trás do cenário do filme de nossas vidas.

Percebemos, ao longo do tempo, que a felicidade genuína é a consequência de uma mente saudável e equilibrada, assim como o bem-estar físico é o resultado de um corpo saudável – e que tudo isso não vem de fora, mas sim, daquilo que cultivamos internamente. Percebemos também que ela ocorre naturalmente ao desatarmos os nós criados por nossa mente, como nossos hábitos e nossas formas condicionadas de perceber a nós mesmos e a realidade ao redor. Não é uma questão daquilo que recebemos de fora, mas sim, daquilo que cultivamos internamente e oferecemos ao mundo.

Mas e a meditação?

Quando começamos a meditar, podemos notar que a nossa mente é como um macaco louco: o tempo todo pulando de galho em galho, de pensamento em pensamento. Essa mente de macaco brinca conosco: uma hora está feliz, outra hora está triste; uma hora está agitada, outra hora desanimada; agora está mal humorada e depressiva, depois fica excitada e fora de controle. Ela vai seguindo aquilo que sente.

Começamos dando uma tarefa a esta mente de macaco. Coisas simples, como: “Olá, sua primeira tarefa é prestar atenção na respiração”. E então, sua mente ficará atenta ao ato de inspirar e expirar. Muitos pensamentos podem surgir, não tem problema. Através da meditação, nós aprendemos a nos tornar “amigos” dessa mente para que, assim, possamos caminhar gradualmente em direção àquela felicidade genuína da qual falávamos.

Nós crescemos ignorando a possibilidade de compreender e de treinar nossas mentes, e por isso seguimos olhando pra fora, perseguindo apenas aquele primeiro tipo de felicidade, condicionada e impermanente, na crença de que isso ou aquilo nos fará felizes – um carro, um emprego, um relacionamento. Pensamos que, se conseguirmos atingir as condições externas corretas, tudo ficará bem. É curioso como não aprendemos praticamente nada sobre nossas mentes ao longo de nossas vidas, e como esse assunto raramente é abordado nas escolas, nas faculdades e na mídia.

Dedicamos nossas vidas para melhorar as condições externas e esquecemos que, na verdade, é nossa mente que experiencia o mundo e o expressa na forma de bem-estar ou sofrimento. Se formos capazes de mudar a maneira como vemos as coisas, transformaremos a qualidade de nossas vidas. Por isso, não há problema nenhum em desejarmos atingir uma mente otimizada. 

A meditação pode ser entendida como um treinamento mental, através do qual podemos ficar mais conscientes de nosso mundo interno, de nossos pensamentos e emoções, e também do que está acontecendo ao nosso redor, aqui e agora. É um treinamento em que saímos do “piloto automático” para entrar em contato com um estado mais natural de nossas mentes.

Você pode se perguntar: “como assim, um estado mais natural?” Pense num copo d’água com um pouco de areia. Se você o agita, a areia se mistura com a água, a deixando turva. Mas, se você deixa o copo parado, aos poucos a areia vai se assentando no fundo até que a água volta a ficar limpa. Nesse exemplo, a areia representa nossos pensamentos, perturbações, emoções e hábitos, e a água representa nossa mente. Sem a meditação, nossa mente permanece turbulenta e turva, com areia por todos os lados. Entretanto, quando meditamos, permitimos que essa areia aos poucos vá se assentando, fazendo com que a água retorne à sua condição natural, calma e límpida.  

Ao repousar neste estado natural, nós podemos manifestar uma mente mais estável e uma felicidade genuína, para que assim possamos oferecer um outro olhar para o mundo e para nossas experiências.

Muitos podem pensar que meditar se trata de fugir da realidade. Pelo contrário! O objetivo da meditação é nos ajudar a ver a realidade como ela é, reconhecendo as causas profundas que geram nossas aflições e dissipando nossa confusão mental. É a partir da meditação que podemos desenvolver uma visão mais clara da realidade, e assim cultivar uma mente mais equilibrada e genuinamente feliz. 

Com a prática da meditação, aos poucos descobrimos que a nossa consciência – que está por trás do vai e vem da nossa mente pensante – é como um céu vasto e azul, normalmente coberto por espessas nuvens. Podem ser nuvens brancas ou cinzentas, pequenas ou grandes, mas continuam sendo apenas nuvens. E por serem nuvens constantes, que estão lá há tanto tempo que você quase nunca consegue ver o céu, às vezes até mesmo esquecemos que ele existe. Ficamos fascinados pelas nuvens e nos identificamos com elas. Mas, com a prática, aprendemos aos poucos a repousar no céu e não nas nuvens. Você pode ter várias nuvens: uma linda, uma feliz, e talvez uma outra não tão agradável, mas elas nunca modificam o espaço natural. O espaço é sempre livre, é sempre puro.

O que a ciência diz?

A ciência vem, nos últimos anos, estudando a meditação e constatando seus benefícios como citamos muitas vezes ao longo das práticas guiadas no Lojong. As pesquisas científicas no campo da neuroplasticidade mostram que toda forma de treinamento induz reorganizações importantes no cérebro, tanto no plano funcional quanto no estrutural, e que a prática contínua da meditação resulta na redução do estresse e da ansiedade. Um estudo recente do Instituto Max Planck analisou os efeitos do treinamento em diversos tipos de meditação. Como o estudo informa, os resultados indicam que estes “treinos mentais” não só são capazes de mudar as redes cerebrais subjacentes às funções como atenção, compaixão e em como regulamos nossas emoções, mas também de melhorar a saúde e o bem-estar subjetivo, reduzindo o estresse e aumentando nosso comportamento pro-social.

O que é o app Lojong?

Lojong é uma palavra tibetana que significa “treinamento da mente”. “Lo” significa mente e “jong”, treinamento ou cultivo. Temos como objetivo apresentar a meditação para quem está começando – sempre aliados à programas apoiados por grandes professores –, e também procuramos ajudar a conectar pessoas à instrutores qualificados e a grupos locais, para que assim possam avançar com suas práticas, o que é fundamental.

O app reúne diversos programas de meditação, vídeos animados, um timer para práticas em silêncio, estatísticas, artigos, citações e diversas ferramentas para ajudar no seu caminho contemplativo.

Grande parte do nosso conteúdo é aberta para usuários não pagantes, porém,  algumas sessões estão disponíveis apenas para assinantes premium, pois assim podemos continuar com a criação de novos conteúdos e investindo na qualidade do app. Entretanto, caso você não tenha condições financeiras para pagar a assinatura, entre em contato conosco, nos contando o motivo, que responderemos o seu pedido o quanto antes.

Nós aspiramos que mais e mais pessoas pratiquem e se beneficiem com as práticas de meditação, e por isso criamos o app, com o objetivo de facilitar o acesso a estas práticas tão importantes ao maior número de pessoas possível.

Lembramos também que, caso você não se identifique com o aplicativo, existem vários outros apps de meditação como também excelentes livros para quem quer começar. Aqui separamos uma lista com alguns livros que recomendamos: “Felicidade: a prática do bem estar” e “Arte da meditação” de Matthieu Ricard; “Felicidade genuína” de B. Alan Wallace; “No coração da vida” de Jetsunma Tenzin Palmo; “Resgate emocional” de Dzogchen Ponlop; e “Um coração sem medo” de Thupten Jinpa.

No Brasil, também existem vários instrutores qualificados oferecendo excelentes cursos presenciais, como o Cultivating Emotional Balance (CEB), assim como existem diversos grupos locais dedicados ao aprendizado de diferentes práticas de meditação – para algumas pessoas, estar inserido em um grupo pode ser o caminho mais fácil para prosseguir com o treino, compartilhando experiências e fortalecendo o hábito da prática. Lembrando que é fundamental procurar sempre por instrutores e grupos reconhecidos e qualificados.

 

Por fim, gostaríamos de enfatizar que tratamentos de saúde – como o uso de remédios antidepressivos – não devem ser substituídos ou interrompidos com base somente nos resultados obtidos com as práticas e sem um acompanhamento profissional.